ArtigosClipeMúsicasNotíciasNovidades

Rewrite this title naturally: Lívia Gaudencio fala sobre série Raul Seixas: “Processo fascinante”



Rewrite the content below in a natural and informative way. Keep the HTML tags:

A atriz e roteirista Lívia Gaudencio tem muito o que celebrar: são 25 anos de carreira nos palcos e nas telas e 15 dedicados à escrita. A artista, que faz parte da equipe de roteiristas da série Raul Seixas – Metamorfose Ambulante, recém-lançada no Globoplay, é a única mulher entre os autores da produção. Em entrevista exclusiva à coluna Fábia Oliveira, ela falou sobre o cenário.

“Eu vejo minha contribuição por um viés bem pragmático, relacionado à presença das personagens femininas e à forma como elas se relacionavam com o Raul, mas também por um olhar sensível, nas cenas que envolvem fantasias e simbologias. Eu sou curiosa por temas místicos e espirituais, então foi prazeroso explorar essas camadas”, contou ela.

Com uma trajetória construída passo a passo, Lívia define sua caminhada como marcada mais por fracassos do que conquistas: “Sempre fui muito dinâmica, indo atrás do que quero, mas faço questão de dizer que, nestes 25 anos, foram mais fracassos do que conquistas (risos). Como não venho de uma família de artistas, me sinto uma desbravadora. Tento comemorar cada pequena vitória, cada passo invisível”, pontuou.

1 de 4

Lívia Gaudencio

Foto: Matheus Soriedem

2 de 4

Lívia Gaudencio

Foto: Matheus Soriedem

3 de 4

Lívia Gaudencio

Foto: Matheus Soriedem

4 de 4

Lívia Gaudencio

Foto: Matheus Soriedem

A maternidade também foi uma virada importante em sua carreira: “Eu decidi colocar a atuação em segundo plano para priorizar o cuidado com meus filhos. Havia frustração nessa escolha, mas hoje entendo que tudo tem sua hora. Agora que eles cresceram, estou voltando a priorizar a carreira”.

Hoje, Lívia celebra também a criação da sua própria produtora, a Gautu Filmes, voltada para projetos autorais com recorte feminino. E garante: não tem planos de parar. “Vou usar uma frase do Raul que ouvi em um sonho há 13 anos e nunca mais saiu de mim: ‘Coragem! Coragem! Se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem! Coragem! Eu sei que você pode mais!’”, declarou.

Leia a entrevista completa com Lívia Gaudencio:

Você está comemorando 25 anos como atriz e 15 como roteirista. Que momentos ou viradas mais marcaram essa trajetória até aqui?
Foram muitas decisões importantes que banquei, muitas vezes sozinha, e que me trouxeram até aqui. Sempre fui muito dinâmica, indo atrás do que quero, mas faço questão de dizer que, nestes 25 anos, foram mais fracassos do que conquistas (risos). Como não venho de uma família de artistas, me sinto uma desbravadora e tento fazer o exercício de comemorar cada pequeno passo dado, cada vitória invisível.

Apesar do apoio incondicional da minha mãe, a decisão mais precoce que tomei sozinha foi aos 11 anos quando, ainda morando no interior de Minas, me matriculei em uma escola de ballet porque eu queria ser bailarina. Mais tarde, eu decidi me mudar para Belo Horizonte para fazer faculdade de Artes Cênicas. Fiz cursos de atuação na NYU e na Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba, e a experiência internacional também me abriu horizontes. Depois eu quis estudar audiovisual e me mudei para São Paulo para fazer uma pós-graduação em Cinema.

Outra escolha que foi bastante decisiva para me direcionar mais para a escrita foi a maternidade. Eu decidi colocar a carreira de atriz em segundo plano para priorizar o cuidado com meus filhos, porque os horários de ensaios e os infinitos castings nunca foram completamente compatíveis com a maternidade presente que eu escolhi assumir. Assim, eu fui desenvolvendo meus textos de teatro e roteiros de cinema no tempo que dava. Não posso negar que havia muita frustração nesta escolha, mas hoje percebo que tudo tem sua hora. Hoje meus filhos já se encontram em uma idade que me permite voltar a priorizar minha carreira.

Na época da pandemia, eu tive uma grande crise de ser artista em um mundo colapsado. Me mudei para Portugal para fazer um Mestrado em Estudos Sobre as Mulheres porque pensei em mudar de carreira para socióloga. Mas foi uma tentativa vã, pois quando surgiu o convite para escrever a série sobre o Raul Seixas, eu, definitivamente, entendi que este é o meu lugar. Depois disso, decidi voltar para o Brasil para assumir de vez que minha pulsão de vida está na arte. O resultado deste novo momento é a abertura da Gautu Filmes este ano, para desenvolver projetos autorais, e a minha volta à atuação no filme “Onde Está Você Agora?”.

O que a Lívia de hoje diria para a jovem atriz e roteirista que estava começando lá atrás?
Esta pergunta me fez lembrar uma conversa que tive com meu pai quando eu me formei em Artes Cênicas. Dentro das suas possibilidades, meu pai me ofereceu suporte para eu fazer outra faculdade porque se preocupava muito de eu não conseguir sobreviver da arte. Eu respondi para ele que eu não ia fazer outra faculdade porque eu acreditava que as pessoas deveriam seguir a carreira que amam. Ele aceitou aquela resposta, afinal eu parecia bastante convicta por fora. Mas internamente eu duvidava daquela frase clichê.

Mais tarde, meses antes de morrer de câncer, ele disse o que havia aprendido com cada filho e mencionou que entendeu que as pessoas devem mesmo seguir a profissão que amam. Acho que hoje eu diria para aquela Lívia sonhadora que ela tem razão mesmo e que nunca duvide de que o caminho é fazer o que ama. Diria também pra entrar completamente de cabeça, para se jogar, sem absolutamente nunca querer corresponder a expectativas que não são suas.

Como foi o processo de escrever sobre uma figura tão icônica e complexa como Raul Seixas para a série?
Eu amei escrever sobre o Raul porque eu já era fã e sempre me identifiquei com as ideias rebeldes e anarquistas dele. Estudar as camadas de sua personalidade, suas nuances criativas ao longo do tempo e tentar traduzir a genialidade dele dentro de uma narrativa foi um processo fascinante.

Você é a única mulher entre os roteiristas da série. Como foi navegar esse ambiente e contribuir com um olhar feminino nessa narrativa?
Eu vejo minha contribuição na construção da série por um viés bem pragmático, relacionado à presença das personagens femininas e em como elas se relacionavam com o Raul, mas também por um viés sensível na construção das cenas que envolvem fantasias, sonhos e simbologias. Eu sou uma pessoa bastante curiosa pelas temáticas místicas e espirituais. Gosto de estudar sonhos, simbologias e metafísica, então foi muito prazeroso poder explorar as possibilidades criativas deste tipo de cena. A gente criava sem limitações e depois a gente discutia a viabilidade técnica e orçamentária para executá-las.

Como você vê hoje o espaço para roteiristas mulheres no audiovisual brasileiro?
Acredito que o espaço para mulheres vem crescendo no audiovisual como resposta a décadas de reivindicações para que mulheres ocupem o lugar que quiserem. Hoje em dia fala-se muito sobre a importância da composição de equipes diversas, mas isto ainda é visto como uma política ideológica apenas. Espero que daqui a alguns anos haja uma visão mercadológica mais homogênea de que todo mundo ganha com isso. Um mundo igualitário e mais justo é um mundo mais pacífico. Até o capitalismo lucra mais se houver olhares diversos para os negócios e produtos. Pode parecer utópico, mas prefiro considerar que é apenas uma projeção otimista de longo prazo. Desejo com todas as minhas forças que as próximas gerações vivenciem esta realidade.

Como nasceu a ideia da websérie Steam Girls? Foi um desafio criar uma trama sobre meninas na ciência?
Este projeto chegou até mim como uma proposta de ser mais documental, com o objetivo de apresentar histórias de mulheres cientistas e encorajar meninas a seguirem este caminho. Na minha pesquisa com a roteirista Marina Moretti, entendemos que os papéis de gênero atuam com muita força na escolha profissional de meninos e meninas – pasmem! – antes mesmo dos 6 anos de idade. Então eu achei que o formato documental poderia ser excessivamente didático para esta faixa etária e que talvez surtisse mais efeito criar uma narrativa fictícia onde as crianças pudessem ver outras crianças fazendo ciência, aumentando a identificação do público com as personagens. Acho que foi uma escolha acertada e a experiência de escrever e fazer a direção artística do projeto foi muito gratificante.

“Onde está você agora?” trata de temas tão delicados quanto a perda gestacional e o Alzheimer. Como foi o processo de escrever, atuar e codirigir esse projeto tão pessoal?
Devo admitir que acumular funções neste projeto não foi fácil e eu tive muito medo de não conseguir cumprir cada função com competência. Mas foi um projeto que escolhi fazer com baixo orçamento, tamanha a minha urgência de produzir esta história. E a única forma de fazer as coisas acontecerem rapidamente e com pouco recurso foi encabeçar as principais funções. Por sorte, encontrei uma equipe muito parceira que me deixou segura na produção do filme. A Kelly Crifer, que fez direção de elenco, foi a primeira a topar fazer parte e foi quando eu entendi que o filme ia acontecer. Depois veio a Cida Reis, que fez co-direção e fortaleceu minhas escolhas. E chegou também a Lets Rec, que fez fotografia e foi uma parceira fundamental neste trabalho.

Como diretora de uma produtora de cinema, quais são os principais desafios para realizar obras autorais no Brasil hoje?
Acho que o principal desafio é a busca por recursos, que é um desafio constante e comum a qualquer produtora. Acredito também que começar um negócio já é um grande feito. Eu abri a Gautu Filmes este ano e sei que é preciso persistência e resiliência para começar a ver os resultados com o passar do tempo. Mas estou otimista porque, como filha de Yansã e Ogum, eu abro os caminhos enquanto movo os meus ventos.

Se pudesse escolher uma frase para resumir sua trajetória até aqui, qual seria?
Vou usar uma frase do Raul que eu ouvi em um sonho há 13 anos: “Coragem! Coragem! Se o que você quer é aquilo que pensa e faz. Coragem! Coragem! Eu sei que você pode mais!”


Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo